sexta-feira, 17 de maio de 2013

O Bolsa família e a lógica do sopão


Trabalhei uma época num bairro de Salvador, onde toda terça-feira uma senhora - proprietária de um restaurante chique da cidade - distribuía sopa para os necessitados. Ela parava uma pickup com vários panelões de sopa e caixas de pão e juntamente com seus auxiliares distribuía a sopa para as pessoas que formavam fila mesmo antes de sua chegada.

Um trabalho de amor ao próximo, uma alma caridosa?
Sei lá!

Mas, existia uma historia de que ela era rica, e um dia perdeu TUDO, e fez uma promessa:  Caso recuperasse sua antiga condição, faria caridade alimentando os mais pobres.

No entanto, o fato que nunca saiu da minha mente, foi um que aconteceu num dia em que eu estava próximo ao carro do sopão e uma senhora, de mais ou menos uns 50 anos, chamou a "senhora caridosa"  e mostrando uma garota de uns 16, 17 anos, com uma criança, de uns 6 meses no colo, falou a seguinte frase:

"Olha dona Maria, esta é minha netinha, e esta é minha filha, lembra dela, foi criada aqui com sua sopa, olha que moça linda e enorme ela ficou..."

Imaginei a tragédia daquela situação.

Aquela senhora criou a filha através da dependência, da caridade de outra pessoa, e agora, levava a neta para depender da mesma caridade. E o pior parecia se orgulhar daquilo.

Três gerações, dependentes da caridade de uma senhora, que distribuía sopa com o intuito de ter o apoio divino para não depender justamente da caridade alheia, não ter a sua condição econômica reduzida...

A garota de 16 anos?

Mais parecia ter 23, com 1,70 de altura, um corpo bonito, rosto idem...em resumo:
forte e capaz de trabalhar! Sua mãe, apesar da idade ainda aparentava ser bastante forte para o trabalho.

E ai eu penso no Bolsa-Família.

Dez anos e ninguém saiu da miséria - por mais que o governo altere parâmetros para criar a "nova classe média"- aquela miséria que conhecemos, a de não se ter o que comer, a de não poder prover o básico necessário a sua família, não acabou.

O Bolsa-Família, é como o sopão daquela senhora. Não tira ninguém da miséria, apenas cria uma dependência, que passa de geração para geração.
Criando um cultura de cidadãos acomodados com sua condição, de pessoas que preferem viver do pouco que se consegue "caridosamente", a correrem atrás de uma vida melhor para seus filhos e netos.

Como aquela senhora caridosa - se a historia que ouvi for verdadeira - o governo não esta preocupado em ajudar os mais necessitados, sua "caridade" tem interesse egoísta, que é manter-se no status alcançado.

O diferença é que aquela senhora espera a ajuda divina para que sua "caridade" seja recompensada. O que na minha opinião não é correto, pois penso que a recompensa da caridade já está em se fazer a caridade, se na sua fé ela acha que o que conseguiu é por causa do retorno divino dado por sua bondade, então que seja, ela não prejudica ninguém e ainda ajuda algumas pessoas.

Já no caso do governo a coisa muda de figura. Pois, para manter a caridade do Bolsa-Família, o governo tira de outros. Os que sustentam este país, os que trabalham e pagam impostos, e não recebem o retorno correto aos seus esforços.
O governo deixa de investir em programas que realmente ajudariam estas pessoas a saírem da miséria. Pois, é mais fácil e prático fazer caridade e o retorno é bem mais vantajoso...nas urnas.

Não que eu ache que o governo não deva ajudar os mais necessitados.
Mas, acho que todo programa de auxilio deveria vir com a cobrança de contrapartidas. E muitos dirão que elas existem. Mas, onde estão os resultados?

Não existem. Por que não há cobrança e fiscalização, não existe interesse em cobrar a contrapartida, de cobrar que as crianças estejam frequentando a escola, e mesmo que se cobre, elas frequentam, mas não aprendem. Vão a escola apenas para "não perder o Bolsa - Família".

Não há uma cobrança para que os pais se escrevam em programas profissionalizantes.
O que há é o oposto : Você só se escreve no programa profissionalizante se receber o Bolsa- Família.

E aqueles que ganham um pouco a mais, que criam os filhos com dificuldade, e não tem condições de pagar um curso profissionalizante para os filhos adolescentes, ficam de fora dos programas do governo. E apertam o cinto para bancar a profissionalização de seus filhos, por que não os querem dependentes do Bolsa-Família ou de "sopões"

Não há uma cobrança para que os pais procurem emprego. A ideia é manter a dependência, e nas eleições usar a tática - que foi condenada por estes mesmos que hoje estão no poder, quando eram oposição- Dizer que, se o adversário ganhar a eleição, o Bolsa-Família irá ser extinto!

Apostam na certeza da memoria curta do povo, que não lembra que o Bolsa- Família não foi criado pelo PT, mas pelo Governo FHC e o PT foi contra.

E assim o povo vai vivendo de caridade, numa nova versão do velho voto de cabresto, de uma nova e repaginada politica do pão e circo...De geração a geração, sem que haja realmente a melhoria das condições de vida do cidadão pobre.

Mas, gerando o empobrecimento do cidadão de classe média!

Marcio Menezes

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