sexta-feira, 1 de junho de 2012

Violência e burocracia


Por: Mauricio Rufino

Me impressiona como os que mais padecem enquanto vítimas da violência difusa e privatizada são também os mais apontados como seus agentes.
Quando temos em um pais que almeja ser a terceira economia do planeta nas próximas décadas e não temos solução pra crianças que tem acesso a armas e comercializam drogas significa que alguma coisa esta muito, muito, mas muito errada mesmo. E bota errada nisso.

A gente reproduziu Les Fleurs du Mal de Charles Baudelaire ao contrario ou quem sabe Renato Russo e sua Legião profetizou em nossas postagens nos versos de As Flores do Mal "mentir é fácil demais, mentir é fácil demais".
Nem Renato nem Baudeleire, nossa criatividade foi mais além e criamos as "sementes do mal".



Sabe qual é conclusão que chegamos quando saiamos da superfície e vamos ao fundo? Que essa criança é a nossa solução, primeiro que ele tem o produto que entope o nariz da maioria das pessoas que nós conhecemos de pó. Segundo que é nele que exorcizamos nossas frustrações políticas e emocionais.

Explico; esse ser que não tem nome nem rosto (nunca tem) vamos chama-lo de "menino de 10 anos" para facilitar o entendimento.

O Brasil gasta na área social cerca de R$ 150 bilhões por ano. Esse derrame orçamentário é absolutamente ineficaz diante do objetivo de redução da desigualdade e erradicação da penúria.

Porque ?

O orçamento social atende, primeiramente, aos burocratas do Estado e o "menino de 10 anos" espera .
Formam comissões e grupos de trabalho, fazem análises setoriais e globais, solicitam assessorias internacionais, promovem jornadas, reuniões de trabalho, de avaliação, de confraternização, de discussão, publicam resultados, discutem o seu impacto, refazem a trajetória da pesquisa, mudam o foco,redefinem os objetivos, compatibilizam os recursos com as metas, estudam alternativas, propõem soluções. E até agora o "menino de 10 anos" espera.

Mas é imprescindível viajar, conhecer in loco a realidade do "menino de 10 anos", produzir um relatório. Para justificar o alto volume de gastos públicos no projeto é necessário um piloto seguido de um plano de execução e da aprovação dos conselhos. Uma vez aprovados nos conselhos sociais, econômicos, étnicos, administrativos e até da Igreja, deverá receber aprovação legislativa e burocrática. E o "menino de 10 anos" esta ai em algum lugar esperando a novela acabar.

Montam um workshop sobre o projeto, primeiramente nacional, depois regional, finalmente local, programam uma nova discussão sobre o já decidido e discutido para o próximo ano, para que não pairem dúvidas e, quando o projeto está no fim do túnel, começa a ser banhado pela luz, seu responsável é demitido, o coordenador vira bolsista de um órgão internacional, a equipe técnica é realocada de suas salas para outras, no mesmo corredor.


Nesses caminhos burocráticos de ternos e gravatas, o que era R$ 100 acaba reduzido a R$ 15. A burocracia é insaciável, os intermediários são vorazes, os administradores incontroláveis e, de cada real destinado aos pobres, ficam com mais da metade.O Estado brasileiro está planejado para conservar os efeitos perversos da pobreza sobre o bem-estar coletivo.

Enquanto a burocracia custa caro, deixa todo mundo feliz e bem na foto, a miséria é a mais extremada e requintada arma do Estado. Mata lentamente, reduz as suas vitimas em sementes do mal e é extremamente barata.

Sua reprodução por meio da política social mantém a engrenagem essencial para a sua sobrevivência. A consequência final do circo é a tragédia humana representada por crianças de 10 anos armadas no meio da rua.

MAURICIO RUFINO - Para o Orkut em 2010.