segunda-feira, 4 de abril de 2011

Verdadeiro amor


Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação. Não noutra alma.
Só em Deus – ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.
Deixa teu corpo se entender com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não.
Manoel Bandeira

A poesia é universal quando busca a essência do amor. Muitas vezes nos perguntamos por que o amor é fonte de tantos desencontros e sofrimentos. Existem duas maneiras de amar: a imaginária (paixão) e a real (amor verdadeiro). É claro que esta divisão é teórica e que na prática as duas se misturam, porém, uma parte sempre sobressai, e é, realmente, esta parte que faz toda a diferença. A paixão é a forma imaginária de amar, sonha com a fusão, com um só ser, nossa cara metade, perfeita, que vem harmoniozamente juntar dois em um.
“... eu amava como amava um pescador, que se encanta mais com a rede que com o mar. Eu amava como jamais poderia, se soubesse como te encontrar...”

Amamos aquilo que supomos nos faltar, precisamos do outro para nosso próprio bem. Narciso não ama, está apaixonado por si mesmo, se apaixona pela imagem que projeta no outro. Imagem embelezada, distorcida, idealizada. Então, fatalmente, se a paixão vive o dia-a-dia, se esgota. Lentamente começamos a nos entediar e a sonhar com outra coisa que nos falta. Mas, se o objeto de nossa paixão parte, vem o desespero, porque paixão sempre renasce instantaneamente na falta e no sofrimento. Este é o tipo mais comum de amor, é uma briga constante com nossas próprias neuroses jogadas no outro. Por que? Porque amar um ser humano real é difícil demais. É preciso aceitar muita diferença e muita solidão, e aceitar a solidão não é fácil. Mas, se quisermos fazer algo de verdadeiro em nossas vidas, é preciso passar por ela, entrar de cabeça, olhar de frente para o vazio e para a angústia que isto provoca. É preciso começar pela angústia de saber que não há fusão possível, que somos sós, e que só nós mesmos somos responsáveis por nossa vida. Se tivermos essa coragem poderemos sair da loucura do amor-paixão, amor-sonho, amor-covarde que exige que o outro preencha um vazio impossível de preencher. Amor que coloca o outro numa prisão, numa angústia por nunca conseguir preencher as expectativas vorazes do desejo imaginado. “... eu quero a sorte de um amor tranqüilo, com sabor de fruta mordida...


O outro tipo de amor, é o amor real, que sabe que aquela fusão é impossível, e mesmo que possível fosse, não abriria mão de sua individualidade. Amor mais maduro, mais real e verdadeiro, onde não se ama uma imagem, mas a pessoa real, de carne e osso, que erra, que tem limites. Este é o tipo de amor que pode dar certo. Amor-companheiro, escolha assumida, divisão de vida. Amar desse jeito é poder aceitar o outro como ele é, sem procurar muda-lo. É desfrutar de sua presença, e do que esta pode oferecer em prazer e alegria. Amar a vida partilhada, a confiança desenvolvida, gostar do que temos e conhecemos tão bem. Mas, para amar desse jeito, é preciso sair da neurose, ao menos um pouco. Parar de olhar só para seu próprio umbigo e aceitar a diferença. E para aceita-la, é preciso passar pelas próprias dificuldades, passar pela solidão, pelo medo que esse vazio provoca em nós. E, principalmente, não culpar o outro por nossos fracassos e medos.Quem já encarou seus fantasmas não precisa mais que o outro tape os buracos por onde se vislumbra o vazio.

E, para quem quer verdades, saiba que mais vale um pouco de amor verdadeiro do que muito amor sonhado.

3 comentários:

  1. "Deixa teu corpo se entender com outro corpo.
    Porque os corpos se entendem, mas as almas não." Só os sábios entendem a lógica do amor... a nós, pobres mortais, resta apenas vivê-lo com a intensidade que ele exige!

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