quarta-feira, 27 de abril de 2011

"Sociedade dos Poetas Mortos"

Antífona
Ó Formas alvas, brancas, Formas claras
De luares, de neves, de neblinas!
Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas...
Incensos dos turíbulos das aras

Formas do Amor, constelarmante puras,
De Virgens e de Santas vaporosas...
Brilhos errantes, mádidas frescuras
E dolências de lírios e de rosas ...

Indefiníveis músicas supremas,
Harmonias da Cor e do Perfume...
Horas do Ocaso, trêmulas, extremas,
Réquiem do Sol que a Dor da Luz resume...

Visões, salmos e cânticos serenos,
Surdinas de órgãos flébeis, soluçantes...
Dormências de volúpicos venenos
Sutis e suaves, mórbidos, radiantes ...

Infinitos espíritos dispersos,
Inefáveis, edênicos, aéreos,
Fecundai o Mistério destes versos
Com a chama ideal de todos os mistérios.

Do Sonho as mais azuis diafaneidades
Que fuljam, que na Estrofe se levantem
E as emoções, todas as castidades
Da alma do Verso, pelos versos cantem.

Que o pólen de ouro dos mais finos astros
Fecunde e inflame a rima clara e ardente...
Que brilhe a correção dos alabastros
Sonoramente, luminosamente.

Forças originais, essência, graça
De carnes de mulher, delicadezas...
Todo esse eflúvio que por ondas passa
Do Éter nas róseas e áureas correntezas...

Cristais diluídos de clarões alacres,
Desejos, vibrações, ânsias, alentos
Fulvas vitórias, triunfamentos acres,
Os mais estranhos estremecimentos...

Flores negras do tédio e flores vagas
De amores vãos, tantálicos, doentios...
Fundas vermelhidões de velhas chagas
Em sangue, abertas, escorrendo em rios...

Tudo! vivo e nervoso e quente e forte,
Nos turbilhões quiméricos do Sonho,
Passe, cantando, ante o perfil medonho
E o tropel cabalístico da Morte...

Cruz e Souza

Para Lêu, que me apresentou este Gênio da poesia.

domingo, 10 de abril de 2011

A MORAL E A MENTIRA EM JUÍZO

Ronaldo Antonio Messeder Filho Juiz do Trabalho Substituto Mestre em Direito do Trabalho pela PUC –MG


De uns tempos para cá, a sociedade brasileira está mais e mais cansada de tanta
corrupção, desonestidade, patifarias e outras velhacarias imorais. A falta de princípios e
de valores virtuosos parece estar, cada vez mais, se alastrando por todos os âmbitos da
sociedade. É preciso, assim, que retomemos a questão moral, a questão do bem e do
mal, do humano e do inumano, inclusive no interior do processo.
Sabemos que a queixa social hoje é freqüente e demasiada. Estamos sempre
reclamando, intensamente, com amigos e conhecidos, das inúmeras imoralidades que
são cotidianamente expostas e veiculadas pela mídia. Mas tais imoralidades não se
circunscrevem ao que vemos na tela dos noticiários, ou ao que lemos nas revistas e nos
jornais. A imoralidade, ou amoralidade, não está somente na esfera do coletivo. A falta
de ética, de solidariedade e de honestidade que vemos por aí advém, essencialmente, e
com maior e mais intensa gravidade, do próprio âmago da nossa individualidade. Somos
todos, na verdade, legítimos partícipes e responsáveis pelo país que temos; somos
causadores dos fatos que tantas vezes criticamos, culpamos e amarguramos. Cada
indivíduo, seja com maior ou menor intensidade, é colaborador desse resultado
catastrófico das dificuldades e infelicidades cotidianas.

Tornou-se mais fácil, no entanto, escolhermos como os responsáveis pela
desorganização social e política do país, apenas os entes que são representativos da
coletividade e do abrangente.

Culpar as instituições básicas formadoras da sociedade e
do Estado tornou-se mais cômodo e conveniente do que responsabilizar cada um dos
cidadãos brasileiros, os reais e verdadeiros participantes desse mal-estar generalizado.
A falta de moral se alastra cheia de exemplos negativos e egoístas. Parece ser
passada de geração em geração e de pais para filhos. A cada grande ou pequeno gesto
negativo delineia-se o cenário do universal negativo e imoral que conhecemos, do social
que é rejeitado por todos, do país que a toda hora tanto nos envergonha.
Neste quadro, temos comportamentos imorais para todos os gêneros e
preferências: do crime do colarinho branco, que tanto nos causa repulsa, ao pequeno
sonegador de imposto de renda; do sujeito que se acha no direito de parar em fila dupla
no trânsito (ainda que bem rapidinho) ao que alcoolizado causa vítimas mortais; do
bandido que furta uma galinha no quintal do vizinho ao que furta milhões dos cofres
públicos; dos indivíduos que jogam seus filhos da janela de suas casas aos que apenas
negligenciam o cuidado elementar com seus descendentes ou ascendentes; dos
espertinhos que se julgam no direito de fraudar combustível aos que se julgam sortudos
pelo troco a mais recebido na padaria, por equívoco de um caixa displicente. Os relatos e
casos são inúmeros e infindáveis. Todos nós bem os sabemos e conhecemos. Todos
temos consciência de sermos responsáveis, em menor ou maior potencialidade, pela
imoralidade geral que se instaurou. Somos, portanto, participantes desse caos de
imoralidade, seja através de ações negativas, seja através de omissões insensíveis e
sempre prontamente justificadas.

Fala-se demais e muito pouco se é feito. Culpamos políticos e não os eleitores.
Culpamos a polícia e não os malfeitores. Culpamos o judiciário e não os litigantes
desonestos. Cada um esquece sua parte e, sem dúvida, esquece que é real participante
desse modelo social negativo do qual tanto nos enojamos e tanto nos envergonhamos.
Deixamos de perceber que o coletivo gerado é, em essência, o espelho retalhado da
individualidade negativa e perversa.

Os pequenos gestos virtuosos e as pequenas gentilezas vão sendo esquecidos e
deixados de lado. Algumas pequenas condutas honestas, de raros indivíduos de caráter,
imersos ou submersos nesse contexto caótico da imoralidade, passam a ser substrato
para o palco de certos noticiários e para a consagração de celebridades insossas e
momentâneas. O honesto tornou-se a exceção. O honesto tornou-se notícia televisiva,
artigo de luxo e objeto de raridade social.
Os atributos do esperto e do malandro, porém,
afloram cada vez mais como regra, ainda que inconscientemente, e vão se tornando
admiráveis e almejados, seja por serem capazes de atrair riqueza, seja por serem
capazes de nos tornar respeitáveis e poderosos.


Daí porque, no Judiciário, também, já se pode sentir e perceber todos esses
sintomas da imoralidade do coletivo e do individual. Aqui, onde os conflitos se deságuam
e onde duelos sofríveis são travados, os juízes e os demais participantes do processo
(partes, testemunhas, advogados, peritos, servidores e outros) começam a perceber
todas essas facetas do imoral e do desonesto. Deparamo-nos diariamente com um
absurdo e crescente número de testemunhas mentirosas, com a desfaçatez de certas
declarações e com a falta de caráter de certos litigantes. Por aqui a verdade vai se
tornando exceção. A verdade passa a migrar para a obscuridade. Para encontrar a
verdade o juiz passa a precisar de exercícios e esforços de hércules, criando fórmulas
jurídicas criativas de interpretação, para desfazer injustiças e distorções processuais. É
preciso sempre, pois, suprir lacunas. Isso porque a verdade fica, muitas das vezes,
escondida atrás das testemunhas mentirosas e dos maus profissionais. A verdade aos
poucos vai se escondendo atrás dos litigantes desonestos, dos litigantes espertos e às
vezes contumazes. O processo se torna, de certa forma, uma armadilha intricada. Nem
sempre o litigante vencedor é o litigante que está com a razão moral e jurídica; muitas
das vezes o vencedor da contenda é aquele que é o mais esperto, o que tem mais
recursos, o que tem bons advogados e, às vezes, o que tem mais poder. Mas, ainda
assim, diante disso tudo, somos capazes de nos interrogarmos e nos perguntarmos,
quem serão os verdadeiros culpados e vilões dessa história. Seriam culpadas somente as
outras pessoas?! Quem seriam os culpados? Por que tanta injustiça? Seriam culpados os
políticos, as leis, a polícia, o judiciário? Não. Culpados somos nós. Culpados somos cada
de um de nós. Culpado não é o processo, o Judiciário, as leis arcaicas. Culpado não é a
república tupiniquim ou o estado democrático de direito do jeitinho brasileiro, culpados
não são apenas os corruptos, os ricos e os desonestos, culpados somos todos nós!
E é exatamente porque não gostamos ou queremos ser vítimas de injustiçasé
que precisamos mudar e nos conscientizar. Porque não gostamos de ser vítimas de
políticos corruptos, de policiais despreparados, de um judiciário injusto ou moroso, é que
precisamos dar conta das virtudes e dos valores salutares para essa mudança. Todos
devem estar cientes de seu papel. Cada cidadão deve estar ciente de sua importância,
dos seus direitos e sobretudo dos seus deveres. Nessa linha o juiz deve estar ciente e
atento ao seu compromisso com a justiça e com a legalidade. Os advogados devem estar
cientes de seu papel de expor os fatos conforme a verdade. Os litigantes devem estar
cientes de que a guerra também tem regras e comporta limites. As testemunhas
precisam saber o seu papel essencial, pois elas são imprescindíveis para trazer à tona a
verdade ao judiciário. Não é só moralidade jurídica, é moralidade de cada indivíduo
integrante da sociedade.

É preciso que todos estejamos cientes de que quando uma testemunha mente,
quando um litigante distorce os fatos, quando cada operador do direito descumpre seu
papel, as vítimas não são apenas os vencidos, as vítimas, que se formam, não são os
juízes, não são os advogados, não são as testemunhas ou apenas as partes. As vítimas
somos todos nós. As vítimas são os nossos amigos, nossos colegas, nossos parentes e
muitas pessoas que estimamos. As vítimas tornam-se todos aqueles que necessitam e
recorrem à justiça, dos que querem dignidade, e de todos que querem e merecem
respeito.
Por isso, todos nós precisamos, cada um a sua maneira, zelar pelo compromisso
ético do processo. Precisamos estar compromissados sempre com a verdade e a lealdade. Devemos evitar as artimanhas processuais, as distorções de caráter e da boafé. Devemos tolher a impunidade, para assim evitarmos a desmoralização de nossas
instituições. Chega de dissimulações.
E lembremos o velho aforisma: os lobos entredevoram-se entre si!

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Não Me Rotulo


Sempre fugi dos rótulos, Nunca me defini apenas por algo, sempre estive aberto a experimentar o novo, por isso nunca me prendi a rótulos.
Gosto de rock roll, mas não me definiria como roqueiro,meus amigos pagodeiros talvez pesem que sou e até me chamam de roqueiro, mas meus amigos que têm o rock roll como filosofia de vida talvez me considerem mauricinho( pela forma de vestir). Musicalmente na verdade sempre me defini com ECLÉTICO, mas isso deixa uma gama de opções e definições, talvez eu devesse dizer que sou ECLÉTICO COM BOM GOSTO!
Não vai ser impossível você me ver dançando um samba, não tenho ojeriza ao axé music, nem tenho ânsia de vômito quando escuto um sertanejo, Se for BOM eu até escuto. Claro que raramente você vai encontrar entre os meus CDS um que toque estes estilos.Mas não concordo que quem curte IRON MAIDEN não escuta Evril Lavigne.
Não sou católico, também não sou ateu, nem sou evangélico...Acho que Deus não precisa que eu siga um "pastor" para que aceite ele, até por quê nunca gostei de ser "ovelha" e não acredito que um homem igual a mim saiba o que Deus quer que façamos de nossas vidas. Se existe um "Manual"( a Bíblia) basta que eu siga as instruções!
Costumo dizer que não sou fanático por nada, aliás o fanatismo me cansa. Odeio pessoas que tem a CERTEZA de algo, simplesmente por que acham que teorias ciêntificas ou palavras divinas dizem que É ASSIM!
Os rótulos criam estereótipos pelos quais você é avaliado e avalia as pessoas. E assim as vezes você já avalia as pessoas antes mesmo de conhece-las.
Talvez existam pessoas que de tão pobres de espírito e inteligência nescessite de um rótulo para se auto definir. São os fanáticos por um time de futebol, por um estilo de vida, por um estilo musical, por uma religião, por uma ideologia politica ou um partido.Estes não enxergam além da viseira que o seu objeto de adoração os deixa enxergar.São como cavalos que puxam carroças que não enxergam o que acontece a sua volta, apenas o caminho que o carroceiro quer que ele enxergue.
Sempre estive aberto a mudanças, sempre esperei aprender mais e assim separar o que me é útil para minha caminhada neste mundo.
Minha profissão não me define, mas é algo que faz parte de mim, a condição de pai não me define, mas é algo que não posso tirar de mim.
Sou um, composto de várias partes, são estas partes que me definem, mas sem rotular.
Costumamos criar personagens para interagir com as pessoas , então temos o palhaço, o introspectivo, o sério, o conquistador, o pacificador, etc.
Escolhemos a hora de usar cada uma destas facetas de nossa personalidade.
Algumas pessoas dirão que nóss nunca nos mostramos como somos realmente, mas eu acho que a não ser quando queremos esconder algo, nós nos mostramos sim, mostramos a personalidade que melhor se encaixa na situação.
Não me rotulo, então NÂO ME ROTULE!
Eu sou oo que você vê e o que eu mostro a você, mas depende do que você quer ver!

segunda-feira, 4 de abril de 2011

O que querem as mulheres?


Bem, já fui o lobo mau e incrível elas diziam querer o príncipe encantado, então, tornei-me o príncipe. Mas elas não acreditam q o lobo vire cordeiro e a desconfiança destrói qualquer relacionamento.
Um dia decide que seria o novo homem, uma junção do príncipe e do lobo.
Segundo as expectativas das mulheres o novo homem é:
Companheiro, engraçado, bonito, charmoso, inteligente, gentil másculo, inteligente, moderno, protetor, provedor, compreensivo, saber dançar, discreto, educado, realizar todas as fantasias delas e ter pegada!
UFA!
Bem mulheres, tenho novidades:
Somos humanos! E mesmo o super-homem teve seus dias ruins.
A mulher lutou por igualdade, dedicou-se a carreira, a vida pessoal, a descobrir o mundo... E conseguiram!
As mulheres querem ser modernas, independentes e brigaram para que os homens reconhecessem estes direitos, mas ainda querem o homem de antigamente:
Que abre a porta, manda flores, dê atenção, amor, sexo...
Alôoooooôu! Se vcs mudaram, nós também mudamos.
Não que não gostemos de ser gentis, mas vocês pediram Igualdade e querem ser tratadas como a Cinderela?
Quando se pergunta a uma mulher o que ela quer de um homem as respostas são mais ou menos assim:
Gostaria de um homem sensível, mas forte!
Contraditório? Sim, muito!
Vocês são:
Competentes ativas, dinâmicas inteligentes, liberadas, sábias, corajosas, arrojadas, independentes, lindonas, (o tempo não derruba vocês), sensíveis, decididas, grandes amantes, talentosas, sofisticadas. E são claro muito melhores que nós, já que tudo que conseguiram tiraram de nós.
E assim vocês querem deixar maridos, ex-maridos, namorados, amantes, e colegas comendo poeira. E depois, quando estamos lá atrás e desistimos de vocês e descobrimos o conforto de uma mulher mais nova e menos competitiva, pronta a admirar nossas qualidades, que aos olhos da mulher-maravilha, já não vale grande coisa. Ai, vcs nos tacham de inseguros com a idade!
Uma das frases preferidas das mulheres modernas quando querem se auto-afirmar é:
“...Sou uma mulher independente, nunca precisei de homem pra me sustentar, tenho nível superior (principalmente se o cara não tem), não sou feia (isso quado não afirma ser bonita), posso ter o homem que eu quiser.”
Nós também podemos ter a mulher que quisermos, aliás, isso há muitos séculos! Mas depois de muito tentar aprendemos que mais vale uma mulher especial que muitas sem conteúdo, pena que vocês não acreditam.
Vejam o que acontece nas diferentes faixas etárias com a proporção entre homens e mulheres:
Para os homens:
Idade --- Numero de mulheres p/ cada homem
20/24 2,1
25/29 5,0
30/34 11,3
35/39 21,6
40/44 33,3
45/49 48,0
50/54 56,7

Já para as mulheres:
Idade --- Numero de homens p/ cada mulher
20/24 3,2
25/29 3,3
30/34 3,2
35/39 2,9
40/44 2,3
45/49 2,5
50/54 1,9
Conclusão:
O mercado esta farto para os homens.
Mas não pense que por isso tudo estamos dizendo que as mulheres de 30 em diante são as únicas que erram.
As garotinhas de 18 a 29 parecem estar sofrendo de um novo mau.
Antes homens mais velhos que se relacionavam com mulheres mais novas, eram inseguros, ciumentos possessivos. Hj observamos o contrario.
Por que aprendemos e descobrimos que somos mais valorizados que os garotões. Cuidamos de nossa aparência, então não ficamos devendo nada aos “saradões”. Somos mais inteligentes, mais cultos, e fazemos um sexo onde a qualidade supera muito a quantidade.
Resumindo:
Nós homens, apesar de durante muito tempo nos dedicar ao trabalho e a carreira, sempre soubemos que a vida afetiva (família) era uma das colunas que sustentavam nosso sucesso.
Mesmo quando não aceitávamos as mulheres como iguais, sabíamos que eram elas que estavam à retaguarda cuidando para que tivéssemos a tranqüilidade e o descanso para as batalhas do dia a dia.
Quando passamos a entender que vocês eram capazes, os mais inteligentes de nós passaram a entender que tínhamos que caminhar juntos e não concorrendo um contra o outro.
Casamento é uma união de iguais, com fins de atingir os mesmos objetivos. Não uma disputa de egos, onde um quer se impor mais que o outro.
Não queremos mulheres submissas, mas tbm não vamos abrir mão do nosso papel masculino. Afinal é ele que nos faz ter “pegada”
A perfeição não existe, o que deve haver é respeito às diferenças.
Não queremos alguém que cometa os mesmos erros que nós, e sim alguém que tenha as qualidades que nos faltam.

Verdadeiro amor


Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação. Não noutra alma.
Só em Deus – ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.
Deixa teu corpo se entender com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não.
Manoel Bandeira

A poesia é universal quando busca a essência do amor. Muitas vezes nos perguntamos por que o amor é fonte de tantos desencontros e sofrimentos. Existem duas maneiras de amar: a imaginária (paixão) e a real (amor verdadeiro). É claro que esta divisão é teórica e que na prática as duas se misturam, porém, uma parte sempre sobressai, e é, realmente, esta parte que faz toda a diferença. A paixão é a forma imaginária de amar, sonha com a fusão, com um só ser, nossa cara metade, perfeita, que vem harmoniozamente juntar dois em um.
“... eu amava como amava um pescador, que se encanta mais com a rede que com o mar. Eu amava como jamais poderia, se soubesse como te encontrar...”

Amamos aquilo que supomos nos faltar, precisamos do outro para nosso próprio bem. Narciso não ama, está apaixonado por si mesmo, se apaixona pela imagem que projeta no outro. Imagem embelezada, distorcida, idealizada. Então, fatalmente, se a paixão vive o dia-a-dia, se esgota. Lentamente começamos a nos entediar e a sonhar com outra coisa que nos falta. Mas, se o objeto de nossa paixão parte, vem o desespero, porque paixão sempre renasce instantaneamente na falta e no sofrimento. Este é o tipo mais comum de amor, é uma briga constante com nossas próprias neuroses jogadas no outro. Por que? Porque amar um ser humano real é difícil demais. É preciso aceitar muita diferença e muita solidão, e aceitar a solidão não é fácil. Mas, se quisermos fazer algo de verdadeiro em nossas vidas, é preciso passar por ela, entrar de cabeça, olhar de frente para o vazio e para a angústia que isto provoca. É preciso começar pela angústia de saber que não há fusão possível, que somos sós, e que só nós mesmos somos responsáveis por nossa vida. Se tivermos essa coragem poderemos sair da loucura do amor-paixão, amor-sonho, amor-covarde que exige que o outro preencha um vazio impossível de preencher. Amor que coloca o outro numa prisão, numa angústia por nunca conseguir preencher as expectativas vorazes do desejo imaginado. “... eu quero a sorte de um amor tranqüilo, com sabor de fruta mordida...


O outro tipo de amor, é o amor real, que sabe que aquela fusão é impossível, e mesmo que possível fosse, não abriria mão de sua individualidade. Amor mais maduro, mais real e verdadeiro, onde não se ama uma imagem, mas a pessoa real, de carne e osso, que erra, que tem limites. Este é o tipo de amor que pode dar certo. Amor-companheiro, escolha assumida, divisão de vida. Amar desse jeito é poder aceitar o outro como ele é, sem procurar muda-lo. É desfrutar de sua presença, e do que esta pode oferecer em prazer e alegria. Amar a vida partilhada, a confiança desenvolvida, gostar do que temos e conhecemos tão bem. Mas, para amar desse jeito, é preciso sair da neurose, ao menos um pouco. Parar de olhar só para seu próprio umbigo e aceitar a diferença. E para aceita-la, é preciso passar pelas próprias dificuldades, passar pela solidão, pelo medo que esse vazio provoca em nós. E, principalmente, não culpar o outro por nossos fracassos e medos.Quem já encarou seus fantasmas não precisa mais que o outro tape os buracos por onde se vislumbra o vazio.

E, para quem quer verdades, saiba que mais vale um pouco de amor verdadeiro do que muito amor sonhado.