domingo, 8 de setembro de 2013

A IMPRENSA, A POLICIA E A MANIPULAÇÃO DA MANCHETE


É de conhecimento geral que a imprensa gosta de usar manchetes chamativas para atrair leitores, e que muitas vezes a manchete ( título) não condiz com o texto.

Não sei se por uma formação capenga ( afinal para ser jornalista hoje nem diploma precisa) ou por orientação de seus editores.E quando se trata de noticiar casos envolvendo a policia, podemos notar que a ideia de dar uma "apimentada" no título para deixa-lo mais atrativo ( a morbidez, a violência, atrai o ser humano).

  Recentemente deparei-me com um exemplo disto no Correio da Bahia:

"Assaltante é morto a tiros durante roubo de carro no CIA; policial é suspeito"

Notem o uso da palavra "suspeito".
No senso comum, suspeito é quem provavelmente cometeu um crime, portanto, o texto transforma o policial em suspeito de um crime. Aquelas pessoas ( a maioria) que não lê a matéria e acaba se prendendo apenas a manchete, já imagina que o policial cometeu um crime.
Já os mais atentos, continuam a ler a matéria e descobrem a realidade por trás da manchete chamativa:

"Luis Cláudio Farias Santos, 21 anos, tentou assaltar o carro de um homem que seria um policial militar a paisana"

E basta clicar no link e se vê um novo título para a mesma matéria:

"Assaltante é morto a tiros durante roubo de carro no CIA

Luis Cláudio Farias Santos, 21 anos, tentou assaltar o carro de um homem que seria um policial militar a paisana"

"Da Redação

Um homem foi morto na noite desta segunda-feira (19) durante uma tentativa de assalto na estrada do Centro Industrial de Aratu (CIA). Segundo informações da polícia, Luis Cláudio Farias Santos, 21 anos, tentou assaltar o carro de um homem que seria um policial militar a paisana.

Armado, o suposto policial atirou no assaltante que foi atingido na barriga e em um dos braços. O assaltante foi socorrido por uma viatura da PM, acionada pela vítima do assalto, e encaminhado para o Hospital do Subúrbio, onde já deu entrada morto.

A assessoria da Polícia Militar ainda não confirmou a identidade do PM. O caso está sendo investigado pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP)."

E lendo a matéria completa, se descobre que não existe "suspeito", pois a Policia sabe quem é o policial, e - como raramente acontece - esta preservando sua identidade.

O caso que pelas informações não passou de LEGITIMA DEFESA, é "MANCHETEADO" como CRIME. Afinal é isso que chama a atenção. A ideia a atrair o leitor pelo seu desejo mórbido de ver miséria.

Uma matéria isenta poderia ser noticiada de diversas formas:

" Policial reage a tentativa de assalto, e mata criminoso";

"Tentativa de roubo de carro acaba com homem morto";

"Homem morre ao tentar roubar carro de policial".

Estaria ai, todos os elementos da matéria, sem a tentativa velada de se transformar na mente popular que o policial é um "suspeito"!
Talvez alguns achem que é exagero meu, que por ser policial, vejo coisas onde não existem. Mas, basta uma olhada na matérias dos jornais e veremos a diferença. Quando se trata de casos de policias que atiraram em alguém a noticia vem sempre nestes moldes:

"POLICIA MATA TRÊS EM OPERAÇÃO"

"HOMEM É ASSASSINADO POR POLICIAL"

Quando a vitima é um policial a noticia vem com eufemismos e reducionismos:

"Policial é morto em operação"

"Policial morre ao resistira a assalto"

A diferença é sutil, no entanto, no senso comum "ser morto" e "morrer" parece ser uma coisa natural, quando se trata de um policial, é coisa "inerente a função". No entanto "MATAR" e "SER ASSASSINADO" é algo inaceitável, ainda mais quando perpetrada por policias, pois este "não é o papel da policia, a policia tem que prender".

O uso de palavras para dar significados diferentes a um mesmo fato é comum para a atender interesses diversos, e isso é muito usado pela imprensa para "marginalizar" ações legitimas de policias.

 Temos aqui dois exemplos bem claros:

No Bocão News usa o termo "invadir", que óbvio é uma palavra que remete a violência, a entrar sem permissão..

Já uma outra publicação, esta estrangeira ( Portugal) fala em ocupação, e não apenas de policias, mas fala também dos profissionais de saúde que estão no Congresso ocupando, da mesma foram que os policiais O Salão Verde.


http://www.portugaldigital.com.br/politica/ver/20079331-centanas-de-manifestantes-ocupam-salas-e-corredores-do-congresso-em-brasilia


Em outros exemplos podemos ver que em outros países a imprensa respeita e procura noticiar as ações da policia destacando sua legalidade, apenas buscando erros onde eles existem. Mas, no Brasil, onde a maioria dos professores dos cursos de jornalismo foram vitimas da ditadura e ainda tem uma visão de que a policia é o inimigo.

Não estou exagerando, tenho observado as manchetes a anos e sempre notei esta diferença no uso das palavras. Não se noticia as coisa de forma igual, por mais parecidas que sejam, a imprensa por exemplo não noticia assim:

"POLICIAL É ASSASSINADO POR BANDIDOS"

"TRAFICANTES MATAM POLICIAL DURANTE OPERAÇÃO CONTRA O TRÁFICO"

E assim o senso comum permanece, encarando a policia como "assassina".

Marcio Menezes

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